Candida glabrata é um patógeno emergente nos hospitais públicos e privados brasileiros. Baseado em análises moleculares, Candida nivariensis e Candida bracarensis foram descritas como duas novas espécies filogeneticamente relacionadas à C. glabrata, formando o complexo C. glabrata. O objetivo deste trabalho foi estudar as características fenotípicas associadas à virulência e ao perfil de suscetibilidade aos antifúngicos em isolados clínicos previamente identificados como C. glabrata oriundos de pacientes com quadro de candidíase entre 1998 e 2015 em dois hospitais públicos no município do Rio de Janeiro. Um total de 92 isolados clínicos foi submetido à análise molecular com base na amplificação e sequenciamento da região ITS1-5.8S-ITS2 do DNA ribossomal. A produção de enzimas hidrolíticas foi avaliada em placas ou tubos contendo meios ou reagentes específicos e a formação de biofilme foi determinada pelo método do cristal violeta e pelo ensaio de redução do XTT. O perfil de suscetibilidade aos antifúngicos in vitro foi determinado pelo método da microdiluição em caldo (CLSI, M27-A3). Candida glabrata stricto sensu foi a espécie predominante (n=91), seguida por C. nivariensis (n=1) a qual foi pela primeira vez descrita no Brasil. C. bracarensis não foi encontrada neste estudo. Em geral, os isolados de C. glabrata stricto sensu foram bons produtores de catalase, aspártico protease, esterase, fitase e hemolisina. Entretanto, não foram detectadas atividades in vitro de caseinase e fosfolipase. Além disso, esses isolados foram capazes de formar biolfime. Todos os isolados de C. glabrata stricto sensu foram suscetíveis à 5-fluorocitosina Entretanto, esses isolados apresentaram resistência à anfotericina B (9,9%), fluconazol (15,4%), itraconazol (5,5%), caspofungina (8,8%) ou micafungina (15,4%). Alguns isolados foram classificados como tipo não-selvagem para o voriconazol (33,0%) e para o posaconazol (4,4%). Anfotericina B e micafungina foram mais eficazes do que o itraconazol e a fluorocitosina frente aos isolados clínicos de C. glabrata stricto sensu na presença do biofilme. Relações estatisticamente significativas foram encontradas (i) entre o perfil de suscetibilidade da micafungina e a produção de esterase, bem como entre o perfil de suscetibilidade do fluconazol, itraconazol, micafungina e a atividade hemolítica; e (ii) entre a produção de diferentes enzimas hidrolíticas, esterase e hemolisina, e a formação de biofilme (p<0,05). O isolado de C. nivariensis foi excelente produtor de aspártico protease e catalase, e um bom produtor de fitase, porém, nenhuma atividade in vitro foi detectada para as demais enzimas testadas. Este isolado também foi capaz de formar biofilme. O isolado de C. nivariensis foi suscetível à anfotericina B, caspofungina e 5-fluorocitosina, porém suscetível dose-dependente ao itraconazol e resistente ao fluconazol e à micafungina. Para voriconazol e posaconazol, este isolado foi classificado como tipo selvagem e tipo não-selvagem, respectivamente. Este estudo reforça o potencial de virulência dessas espécies e destaca o perfil de resistência de alguns isolados aos principais fármacos geralmente usados no tratamento da candidíase.

Características fenotípicas associadas à virulência e ao perfil de suscetibilidade aos antifúngicos em isolados clínicos do complexo Candida glabrata

 

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